HERMANOS

Brasileiros vivem dilema na torcida pela Argentina na Copa

Por Notícias ao Minuto 30/06/2018 - 08:29

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Foto: Divulgação
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Na tarde de terça-feira, 26, os alunos de Cássia Duarte se entreolharam quando a professora, do nada, comemorou um gol pela sala.

Afinal, a seleção canarinho só entraria em campo no dia seguinte, e o país todo pararia para assistir ao jogo.

Mas a professora, no exercício regular de suas funções, se valeu de informações sopradas através da janela pelo porteiro da escola para poder vibrar com a vitória da Argentina sobre a Nigéria por 2 a 1.

"Desde criança sou apaixonada pelo time argentino por causa da minha avó, que se chamava Argentina, ainda que fosse brasileira", ri.

Durante o jogo Brasil e Sérvia, de folga em casa, Cássia tirou um cochilo. Nas Copas, ela só veste a camisa azul e branca -para espanto geral.

Rivais em campo há décadas, Argentina e Brasil disputam mais do que taças.

Ambas querem ser a nação mais boleira do mundo, o principal celeiro de craques do planeta e, é claro, o berço do maior jogador da história.

Tamanha competição faz com que, para muitos, a admiração de um brasileiro pelo futebol dos hermanos tenha ares de traição ou sandice.

"Muita gente já me chamou de louco porque torço para a Argentina", conta o autônomo Alex Paulo da Silva, 40, quase tão fanático pelo time de Messi quanto pelo Corinthians.

"Sempre vi garra nos jogadores argentinos. Fui cativado por seu sofrimento e sua raça", explica ele, que, menino, torcia escondido com medo de represálias ou censura.

Dela não escapou o advogado Pedro Abramovay, 38. Num passeio com o filho pequeno no Rio, entre olhares estranhos e insistentes, um senhor os abordou. "Vocês são argentinos, né?". Diante da negativa, a indignação: "Então por que é que estão usando camisetas da Argentina?".

"Gosto do país, gosto dos argentinos, gosto de Maradona", justificou-se, sem sensibilizar o irritado torcedor canarinho.

"Meu filho não entendeu nada. Para ele, nosso rival é a Alemanha, que nos bateu por 7 a 1, e não a Argentina", relativiza Abramovay, que admira a seleção argentina, mas torce mesmo é para a brasileira.

Para o cartunista Adão Iturrusgarai, 53, que vive no país vizinho há 11 anos, não existe polêmica: ele torce para Brasil e para a Argentina. "Isso dobra as minhas chances de ser feliz. O problema é quando as seleções se encontram", diz.

Argentina e Brasil não se enfrentam numa Copa desde 1990, mas podem se encontrar nas semifinais deste ano.

Adão acha a rivalidade "boba", que parece ser mais intensa do lado de cá. Essa assimetria foi expressa pelo sociólogo argentino Pablo Alabarces na frase: "Os brasileiros amam odiar a Argentina, enquanto os argentinos odeiam amar o Brasil".

Tal lógica ficou evidente na pesquisa do sociólogo brasileiro Ronaldo Helal, 62, professor da Uerj que estudou a rivalidade futebolística a partir da imprensa.


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