ESTATÍSTICAS CGU
Mais de 300 crianças receberam vacina errada contra covid-19 em Alagoas
Casos foram denunciados ao STF para responsabilização e acompanhamento dos menoresA negligência e o despreparo profissional na campanha de vacinação contra o coronavírus levou 57.147 crianças e adolescentes em todo o país a serem imunizados com doses para adultos não autorizadas para aplicação em menores de 18 anos pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Os equívocos ocorreram em todas as unidades federativas e em Alagoas o registro é de 305 casos.
Pelos dados, crianças de 0 a 17 anos foram imunizadas no estado com vacinas Astrazeneca, Coronavac e Janssen. Além disso, 11 crianças abaixo de 4 anos foram vacinadas sem que a vacinação tivesse nenhum respaldo da Anvisa e nem do próprio Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação.
Em Alagoas foram aplicadas doses da Astrazeneca em 6 crianças (0-4 anos), 10 crianças (5-11 anos) e 63 (12-17 anos). Com a vacina Coronavac foram 1 criança (0-4 anos), 16 crianças (5-11 anos) e 126 (12-17 anos); com a vacina Janssen houve um caso (12-17 anos) e com a Pfizer para adultos foram 4 crianças (0-4) e 78 (5-11 anos).
Os dados constam em manifestação enviada nesta terça-feira (18) ao ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), pelo advogado-Geral da União, Bruno Bianco. Segundo ele, os números foram retirados da Rede Nacional de Dados da Saúde, na qual estados e municípios são obrigados a registrar informações inseridas em todos os cartões de vacinação.
Ainda de acordo com Bianco, o Ministério da Saúde enviou dois ofícios aos estados e ao Distrito Federal, em setembro e em novembro do ano passado, questionando os dados sobre a aplicação de vacinas não aprovadas pela Anvisa em menores de 18 anos e também se haveria erros na inserção das informações que pudessem ser retificadas, mas não obteve respostas.
Segundo matéria divulgada pela Agência Brasil, Bianco teria pedido a Lewandowski que conceda uma liminar (decisão provisória) para obrigar estados e municípios a interromper qualquer campanha de vacinação de crianças e adolescentes que esteja em desacordo com as diretrizes da Anvisa e do Plano.
A AGU argumenta que os números configuram indícios suficientes para justificar a medida cautelar, pois “podem vir a revelar, nas hipóteses mais extremas, casos de negligência gravíssima na aplicação de vacinas”.
Bianco ainda solicitou que o ministro Lewandowski ordene estados e municípios a identificarem todas as crianças e adolescentes que receberam vacinas equivocadamente, para que sejam inseridas no sistema de farmacovigilância e tenham identificados possíveis efeitos adversos. O procedimento é uma recomendação da Anvisa.
Faixas etárias
De acordo com tabela extraída da Rede Nacional de Dados da Saúde e que consta na manifestação da AGU, 2,4 mil crianças de até 4 anos foram vacinadas contra a covid-19. Além disso, 4,4 mil crianças entre 5 e 11 anos teriam recebido vacinas de outros fabricantes que não a Pfizer/BioNtech, única aprovada pela Anvisa para aplicação nessa faixa etária.
A tabela também aponta a aplicação da vacina da Pfizer, mas em sua versão para adultos, em 18,8 mil crianças entre 5 a 11 anos no lugar de doses pediátricas aprovadas pela Anvisa para essa faixa etária e cujas primeiras remessas só chegaram ao Brasil este ano.
No caso de adolescentes entre 12 e 17 anos, 29,3 mil receberam doses de farmacêuticas – AstraZeneca, Sinovac ou Janssen – que ainda não receberam autorização da Anvisa para aplicação nessa faixa etária.