GABINETE PARALELO

Médico alagoano participou de reunião secreta para incentivar uso de cloroquina, diz site

Emmanuel Fortes admitiu durante encontro que não poderia fazer em público o que estava fazendo ali
Por Bruno Fernandes com The Intercept Brasil 21/10/2021 - 14:51
Atualização: 21/10/2021 - 15:05

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Reprodução
Emmanuel Fortes e Bolsonaro
Emmanuel Fortes e Bolsonaro

O médico alagoano Emmanuel Fortes, terceiro vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), foi um dos integrantes de uma reunião on-line no dia 19 de julho de 2020 para discutir o embasamento legal para a prescrição da coloroquina e estratégias de distribuição do medicamento, que não tem comprovação cientifica contra a covid-19, revelou o site The Intercept Brasil.relacionadas_esquerda

Fortes é o responsável por dirigir e coordenar os trabalhos da Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos, ou seja, de propaganda, no CFM. Mas, segundo o Intercept Brasil, no gabinete paralelo, ele tratava do parecer 4/2020 do CFM, que liberou o uso de cloroquina para o combate de doenças cuja aplicação não está prevista na bula do medicamento.

O médico que aconselhou o governo federal sobre o uso de remédios comprovadamente ineficazes contra a Covid-19 também tem o poder de uniformizar a fiscalização da medicina em todos os estados do Brasil, segundo mostra o site do CFM.

Conforme revelado pelos jornalistas Guilherme Mazieiro e Rafael Moro Martins, Cavalcanti teve uma reunião com dois secretários do Ministério da Saúde, junto de outros integrantes do Conselho Federal de Medicina — que eram participantes do chamado “gabinete paralelo” — para orientar a prescrição de cloroquina e sua distribuição.

Na reunião online, o médico fez uma apresentação de 19 slides, todos com o logotipo do CFM, em que detalhou leis, pareceres e manuais de conduta da profissão para estimular médicos a receitarem cloroquina contra a Covid-19.

No ambiente reservado, os representantes do CFM admitem que estavam ali debatendo algo que não tinha a aprovação das autoridades de saúde. Emmanuel Fortes, inclusive, admitiu ainda que não poderia fazer em público o que estava fazendo ali. “Eu próprio escrevi o que eu não posso fazer”, disse, rindo.

Segundo o Intercept Brasil, a gravação do encontro foi entregue por uma fonte que pediu para se manter anônima por medo de represálias. O material não faz parte dos documentos recolhidos pela CPI.

Investigado pelo Ministério Público Federal

O médico Emmanuel Fortes é alvo de um inquérito do Ministério Público Federal (MPF) por prescrever medicamentos sem eficácia comprovada contra a covid-19.

A Defensoria Pública da União, na primeira semana de outubro, protocolou uma ação na Justiça em que cobra R$ 60 milhões do CFM, por danos morais coletivos na pandemia.

O presidente do Conselho, Mauro Luiz Ribeiro, admitiu que a liberação do uso da hidroxicloroquina foi feita sem qualquer respaldo científico.

Emmanuel Fortes é filiado ao PSL, que em Alagoas segue a orientação de Jair Bolsonaro. Também foi também candidato a vice-prefeito de Maceió ano passado.

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