PANDEMIA

Baixa testagem contribui para avanço da covid-19 em Alagoas

Estado tem mais de 8 mil pessoas aguardando resultado dos exames
Por Tamara Albuquerque 16/01/2021 - 14:03
Atualização: 16/01/2021 - 14:34

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Agência Alagoas
Procura por assistência nas centrais de testagem cresce este mês
Procura por assistência nas centrais de testagem cresce este mês

Falhas na testagem da população para diagnóstico do coronavírus contribuíram para o avanço da covid-19 no Brasil e o trágico número de mortes, segundo avaliação da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O país ultrapassou a marca de 200 mil mortos pela covid-19 na quinta-feira, 7, da semana passada, chegando a 205.965 nesta quinta-feira, dia 14. No início da pandemia o temor era que o Brasil registrasse 180 mil óbitos. Hoje, as projeções indicam que, mesmo com a vacinação, as mortes podem somar 300 mil em abril se o País não mudar a estratégia de testagem e rastreio, segundo alerta o pesquisador da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, Domingos Alves, do portal covid-19 Brasil.

Desde o início da pandemia até o último dia 12, Alagoas realizou 229.285 testes para diagnóstico da infecção pelo coronavírus, onde 109.720 receberam resultado positivo e outros 8.162 estão em investigação laboratorial. Os dados são do Boletim Epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau). O boletim de testes diários aponta uma cobertura de testagem baixa, de pouco mais de 2 testes para cada 100 mil habitantes no estado.

Estudo realizado pela Fiocruz em outubro do ano passado e divulgado recentemente, revela que o Amapá, Distrito Federal e Maranhão são os estados brasileiros que fizeram menos testes do tipo RT- PCR para detectar a covid-19. Esses locais tiveram taxas de, respectivamente, 0,3; 0,5 e 1,7 testes PCR feitos a cada 100 mil habitantes. Os testes PCR podem prever para onde está indo a pandemia, facilitando a tomada de decisão sobre medidas mais restritivas de circulação. O estado que mais fez testes PCR no país - São Paulo - teve uma baixa cobertura de testes ao se analisar a taxa por 100 mil habitantes: 9,5 testes a cada 100 mil, inferior a outros 14 estados do país.

No Rio de Janeiro, que segundo dados da Fiocruz tem a maior taxa de mortalidade por coronavírus do país, foram feitos apenas 7 testes PCR a cada 100 mil habitantes no mês de outubro. O Paraná foi o estado com maior taxa: 36,5 a cada 100 mil habitantes. Já Paraíba é um exemplo no Nordeste para testagem em números absolutos. O estado tinha disponível 70.141 testes e aplicou 78.963, uma taxa de 113% no uso dos exames. Não há uma taxa a ser perseguida pelos estados, mas a conclusão da Fiocruz é que a cobertura do Brasil em termos de testes para diagnóstico do coronavírus é baixíssima.

Alagoas ainda possui um estoque de 43.369 testes, segundo o boletim da Sesau, sendo 37.744 exames PCR e 5.625 testes rápidos.

Cientistas também apontaram outros fatores para o trágico número de mortes no Brasil: a política negacionista, ausência de coordenação nacional, medidas contraditórias e baixa adesão ao distanciamento social e individual colocaram o país nesse quadro gritante.

Com a vacinação contra covid-19 iniciada em mais de 40 países, mas ainda sem data no Brasil, a Fiocruz argumenta que só o aumento da testagem com rastreio pode conter o avanço da doença entre os brasileiros. “Um planejamento de aplicação de testes adequado permite identificar os indivíduos infectados e, somado à estratégia de rastreio de contatos, foi o que possibilitou a contenção da doença nos países que foram exitosos no enfrentamento da epidemia”, conclui o documento da Fiocruz.

Em maio do ano passado, o Ministério da Saúde chegou a elaborar um plano de testagem da população. A iniciativa era parte da estratégia de prevenção e combate à covid-19, construída com parceria de secretários estaduais e municipais de Saúde. A meta era realizar testes em 22% da população nacional. Na época, o governo já havia anunciado a compra de 46 milhões de testes. O cronograma previa 1,5 milhão de testes em maio; 4 milhões em junho; outros 4 milhões em julho; 3,2 milhões em agosto; 3,1 milhões em setembro; 3,1 milhões em outubro; 3,1 milhões em novembro; e 3 milhões em dezembro. Os números nunca ficaram perto de serem atingidos.

Se um dos problemas do Brasil foi não ter construído uma estratégia nacional de testagem, dificultando que gestores e cientistas lidassem com a situação da pandemia sem ter diagnóstico epidemiológico, outra questão igualmente importante e que vem contribuindo para o aumento dos casos é a agilidade nos resultados dos exames.

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