Sobre lobos burros e homens

Por 11/08/2011 - 00:00

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A morte breve, como alguns tentam fazer crer, não é um fato recorrente apenas entre os jovens roqueiros ou artistas modernos. Desde os mais imemoriais tempos tal fato tem sido quase uma macabra rotina na humanidade.

Num recuo milenar vamos encontrar o herói de Tróia, Aquiles, morrendo no auge de sua juventude, atingido em seu frágil tendão, por uma flecha envenenada. Por sua vez, esta morte já foi cometida num ato de vingança pela morte de outro jovem, Heitor.

Numa breve análise, verificaremos que a maioria dos heróis mitológicos gregos morreram jovens.
Num salto no tempo e já adentrando no período histórico, temos Alexandre O Grande morrendo aos 33 anos na Babilônia, após uma peregrinação de mais de 12 anos entre guerras e conquistas.

Jesus, o maior exemplo de um jovem morto prematuramente. Mozart aos 25 anos, Schubert aos 31, Chopin aos 39, Castro Alves aos 24, , Noel Rosa, Kennedy, Che Guevara. Enfim, poderemos encher várias páginas com nomes e datas de pessoas, hoje famosas, que morreram prematuramente.

Mas, o que tinham elas em comum ? - Acima de tudo, genialidade. Mas, além da genialidade, poderemos acrescentar outro fator ou característica que não foi menos importante na determinação da trágica ocorrência do evento morte de tais celebridades, a alta sensibilidade e choque de tal sensibilidade com os fatos e valores do mundo em que viveram.

Em decorrência de tal incompatibilidade, uns morreram chocados, outros tentando chocar o mundo estranho com que se deparavam. Mas todos, sem exceção, se mostraram estranhos no seu meio e no seu tempo, e todos, da mesma forma, passaram ao largo da mediocridade.
Existe um adágio que afirma: Na floresta, o astuto e inteligente lobo vive apenas 10 anos, enquanto o obtuso e tolo burro vive pelo menos 30.

Assim parece acontecer com o destino dos homens. Os diferenciados, os precoces os que estão à frente de seu tempo, geralmente tem suas vidas ceifadas ainda na juventude, enquanto os medíocres os insensíveis, aqueles que engrossam o cordão dos indivíduos comuns, em regra, duram muito. Digo duram porque suas vidas não é um viver, mas sim um durar, como uma cadeira, um anel, um penico ou qualquer outro objeto.

Tudo isto, vem a respeito da prematura morte da jovem cantora Emy Winehouse, que feleceu recentemente aos 27 anos de idade e apenas 04 anos de efetiva carreira.

Como todos seus companheiros de breve partida, Amy por ser dotada de uma grande sensibilidade e uma gigantesca imcompatibilidade com o mundo à sua volta, morreu não chocada, mas tentando chocar. Nessa empreitada, não se deu conta do fato que estava na contramão de seu inglório objetivo, pois jamais ela poderia alcançar êxito ao tentar chocar um mundo que sempre acorreu em multidões a um Coliseu para se divertir e vibrar com o espetáculo de cristãos devorados por feras. Jamais poderia chocar um mundo de seres que se reuniam aos milhares em uma praça a que deram o nome - ironia - de Praça da Concórdia e, com vibrantes urros, assistiam a decapitação de um ex vizinho, de um ex amigo de taverna, de um ex colega de trabalho.

Como ? -Como poderia aquela frágil criatura chocar um mundo que aos domingos se reúne em uma arena para ver um espetáculo de sangue, seja do touro ou do toureiro? Como poderia chocar uma humanidade que teve como lazer dos domingos o espetáculo de um dito herege assado vivo no centro da mais bela praça de sua cidade? Com certeza, suas tentativas restariam infrutíferas e sua sucumbência seria certa.

Finalmente, é fatal. Como o lobo e o burro, aqueles que se mostram francos, não se preocupando com o politicamente correto e, a exemplo dos lobos, mostram logos seus afiados caninos e suas cortantes garras, assustam a humanidade e esta trata logo de os decapitar ou jogá-los aos leões ou na fogueira. Porque, em sua avassaladora medíocridade, a humanidade teme o gênio, teme as diferenças. Enfim, teme tudo que se afasta da sua comezinha rotina.

No caso de Emy Winehouse, Michael Jackson, Jimi Hendrix e outros, suas fogueiras eram de vaidades seus leões estão travestidos de mídia e o vibrante e respeitável público assiste e vibra com suas quedas e misérias através da internet.

Enquanto isto, como os burros na floresta, os medíocres e os mansos de idéias seguem em sua pacata e inofensiva rotina, pastando e ruminando, pastando e ruminando, pastando…

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