POLÍCIA

Empresas investigadas em esquema em Rio Largo eram da mesma família

Por José Fernando Martins 07/08/2022 - 15:57

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Prefeito Gilberto Gonçalves
Prefeito Gilberto Gonçalves

A utilização de empresas de fachada e laranjas é rotineira quando se trata de esquema de corrupção. As duas empresas supostamente envolvidas no escândalo em Rio Largo, a Litoral Construções e Serviços e a Reauto Serviços e Comércios de Peças para Veículos, não fugiram do clichê. Relatório da Polícia Federal identificou que o esquema teria movimentado valores milionários em repasses feitos pela Prefeitura de Rio Largo às investigadas.

Conforme o inquérito, Gilberto Gonçalves usava as empresas com o intuito de desviar recursos públicos federais encaminhados ao Município. Mas para o esquema dar certo, as empresas Litoral e Reauto precisavam fazer sua parte. No caso da Litoral, a missão era emitir notas fiscais para justificar pagamentos. A empresa recebeu R$ 4,5 milhões da Prefeitura de Rio Largo entre 2019 e fevereiro de 2022, incluindo recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e do Fundo Municipal de Saúde. 

Apenas nesse período, recebeu R$13,8 milhões em contratos com diversas prefeituras alagoanas. No entanto, talvez com a incerteza da impunidade, a Litoral nem possuía sede própria. A Polícia Federal constatou que sequer tinha funcionários e funcionava em uma sala de hotel, algo bem peculiar se tratando de empresa que comercializa mate[1]riais para construção. Fundada em agosto de 2018 com o nome de G.V. Bezerra Serviços e Comércio, ela tem como sócios Gisele Veríssimo Bezerra e Adson Lima da Silva, este residente em uma casa modesta da periferia de São Paulo conforme reportagem publicada pelo Estadão na quinta, 4. 

Apontado no relatório da PF como o “principal sacador”, entre janeiro de 2019 e fevereiro de 2022, fez 81 saques na conta da empresa no valor de R$ 3,2 milhões, do total de 226 retiradas de R$ 5,2 milhões. Adson é filho de Ailton José da Silva, proprietário da Reauto, que recebeu R$ 13,48 milhões de Rio Largo entre março de 2018 e janeiro de 2022 — foram 119 transferências, inclusive com recursos do Fundo Municipal da Saúde. 

Ainda conforme a PF, “apesar de existir, de fato, a Reauto apresenta uma estrutura incompatível com os valores que transitaram por suas contas, pois, entre 01/01/17 e 15/02/22 (data limite da Decisão judicial), recebeu R$ 49.038.965,19”. No caso da Litoral, Adson Lima fundou a empresa em 7 de agosto de 2018. Além dela, possui a Lima Service Ltda, aberta em 2015, e a Silva Peças e Serv de 2018. Tendo como sócia Gisele Verissimo Bezerra, a Litoral tem o CNPJ 31.139.642/0001- 08, o mesmo da antiga empresa a G.V. Bezerra que, segundo inscrição na Receita Federal, atua desde o comércio varejista de construção civil à venda de materiais médicos, de perfuma[1]ria, papelaria, equipamentos de informática e escritório.

Vale destacar que a Prefeitura de São Luís do Quitunde entrou com processo, neste ano, contra a Litoral, o que a tornou impossibilitada de fazer novas licitações com base no artigo 7º da Lei nº 10.520 de 17 de julho de 2002. Sob a acusação de comportar-se de modo inidôneo a Litoral está impedida de licitar e contratar com a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios, além de ser descredenciada no Sistema de Cadastramento Unificado de Fornecedores (Sicaf) pelo prazo de cinco anos.

A empresa também tem vínculos com outro município. No dia 18 de setembro de 2019 a Prefeitura de Santana do Mundaú assinou contrato com a Litoral para fornecimento de material de construção e elétrico no valor de R$ 703 mil. O contrato foi assinado pelo prefeito Arthur Freitas (reeleito em 2020) e a Gisele Verissimo Bezerra.

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