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Enchentes podem levar a surtos de doenças de veiculação hídrica

Por Tamara Albuquerque 10/07/2022 - 11:30

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Secom Marechal Deodoro
Contato com água de enchentes é risco para contrair doenças como a leptospirose
Contato com água de enchentes é risco para contrair doenças como a leptospirose

As chuvas continuam castigando Alagoas e deixando vítimas desabrigadas e desalojadas em mais da metade dos 102 municípios. As principais bacias hidrográficas registram nível elevado das fontes e as inundações afetam zonas rural e urbana. A situação de emergência com esse quadro se estabeleceu desde a sexta-feira, dia 1º de julho, e vem sendo monitorada, mas os profissionais da saúde alertam para outra ameaça à população alagoana: os surtos de doenças de veiculação hídrica, aquelas em que a água é o principal meio de transmissão. 

O contato “quase” inevitável das pessoas com essas águas que percorrem ruas, carregando todo tipo de resíduos e dejetos de pessoas e animais, além de esgotos domésticos, pode levar ao adoecimento da população por cólera, hepatite infecciosa, leptospirose, amebíase, febre tifoide, gastroenterite, verminoses como esquistossomose e ascaridíase, entre outras patologias. 

Na avalição do infectologista Fernando Maia, do Hospital Escola Dr. Helvio Auto, em Maceió, a maior preocupação neste momento é o aparecimento de casos de leptospirose. A doença infecciosa é transmitida com a exposição direta ou indireta à urina de animais (principalmente ratos) infectados pela bactéria Leptospira. Nas situações de enchentes, o contato com a água contaminada aumenta o número de casos da doença. Pelo menos 10% dos pacientes com leptospirose desenvolvem a forma mais grave, podendo sofrer lesões renais e sangramentos digestivo ou pulmonar que, a depender da intensidade, podem levar à morte.

A bactéria presente na urina dos animais pode estar presente na água em enchentes e também na lama úmida que aparece após o recuo das águas de inundações, segundo o médico. “A doença põe em risco grande número de pessoas e pode ser considerada um problema de saúde pública”, diz. Segundo o infectologista, crianças e idosos são as faixas etárias mais acometidas pela infecção. 

A depender do tempo levado para diagnóstico, a maioria dos pacientes apresenta formas leves. Fernando Maia orienta que as pessoas observem nos próximos 28 a 30 dias após o contato com as águas das inundações, se há presença de algum sintoma da leptospirose e busque consultar um médico. Entre os sintomas estão febre alta, mal-estar, dor muscular, olhos avermelhados, tosse, cansaço, náuseas e diarreia. Há casos de pacientes que apresentam manchas vermelhas no corpo, o que pode ser confundido com sintoma de outras doenças como a dengue. 

O tratamento, enfatiza o médico, é efetivo e funciona bem, desde “que iniciado em tempo hábil”. A demora no diagnóstico normalmente leva o paciente ao internamento hospitalar. No Sistema Único de Saúde (SUS) os gastos com as doenças de veiculação hídrica são altos em função das contaminações por falta de saneamento básico e enchentes. Em 2017, a incidência de internações no País por esse tipo de doença foi de 12,46 casos para cada 10 mil habitantes, representando uma despesa de cerca de R$ 99 milhões.

Em 2019, somente o Nordeste registrou 113.748 internações com 2.743 óbitos decorrentes de doenças de veiculação hídrica, uma m dia de 7,4 mortes por dia, segundo o Instituto Trata Brasil. É preciso levar a sério a possibilidade de contaminação através do contato com essas águas, segundo o médico. Algumas vezes é possível evitar o contato ou reduzir, usando calçados fechados ao andar por locais alagados ou com lama, ingerir água que tenha passado pelo processo de fervura, lavar chão e paredes dos ambientes e enxaguar com água acrescenta[1]da com água sanitária, manter a higiene das mãos e outras partes do corpo que teve contato com as águas e evitar comer alimentos expostos.


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