APENAS EM ALAGOAS

Mais de duas mil crianças foram vítimas de violência sexual nos últimos quatro anos

1.278 vítimas tinham entre 10 e 14 anos quando foram violentadas
Por Bruno Fernandes com MPE 19/05/2022 - 14:18
Atualização: 19/05/2022 - 14:37

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Ascom Mandaver
Secretário de Assistência Social, Carlos Jorge
Secretário de Assistência Social, Carlos Jorge

Entre os anos de 2017 e 2021, Alagoas registrou 2.742 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes segundo dados divulgados nesta quinta-feira, 19, pela Gerência de Doenças e Agravos não Transmissíveis (GEDANT) da Secretaria Estadual de Saúde.

Desse total, 1.278 vítimas tinham entre 10 e 14 anos; outras 554, entre 5 e 9 anos; e mais 486, possuíam idade entre 15 e 19 anos.

Os números oficiais também mostraram que 1.852 vítimas eram da raça parda, enquanto 354 foram identificadas como brancas. A raça negra ficou em 3º lugar, com 254 casos.

Quem viveu essa situação de violência sexual foi Carlos Jorge da Silva que, aos 5 anos, teve sua infância roubada por um abusador e hoje é idealizador de um projeto para crianças carentes da parte baixa de Maceió e atual secretário de Assistência Social de Maceió.

“Eu era bem criança, mas ainda me lembro dos detalhes, do cheiro daquele lugar. Uma pessoa de confiança da minha família pegou na minha mão e me levou até lá, onde aconteceu a violência sexual. Eu me culpei por anos, os traumas me levaram ao alcoolismo e à delinquência. Passei a sentir vergonha de quem eu era. Foi difícil vencer esse abismo emocional. Mais complicado ainda foi deixar que outra pessoa encostasse em mim”.

Campanha Proteja

Assim como ele, que ainda carrega o impacto da violação do seu corpo, outras milhares de vítimas, em Alagoas, também sofrem pelo mesmo motivo, e é justamente para combater esse crime que o Ministério Público Estadual tem, por meio da campanha Proteja, mobilizado todas as prefeituras dos 102 municípios alagoanos em busca de ações de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes que, lamentavelmente, já soma quase três mil vítimas entre 2017 e 2021.

Desde quando as tratativas começaram, há dois meses, dezenas de gestores públicos se comprometeram com a coordenação do Núcleo de Defesa da Infância e Juventude do Ministério Público a aderirem a campanha.

Para o promotor de Justiça Cláudio Malta, o caso de Carlos Jorge, se levadas em consideração as estatísticas, não é o retrato fiel da realidade. “Ainda precisamos alertar para o fato de que a subnotificação esconde os dados reais, uma vez que muitas vítimas, exatamente por serem crianças, não conseguem entender a gravidade do que está ocorrendo. É por isso que ações preventivas e combativas têm, necessariamente, que andar de mãos dadas. O silêncio, se não rompido, acaba se tornando cúmplice do crime”, declarou ele.

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