EDITORIAL

A duração do isolamento

Por Redação 05/04/2020 - 10:33

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Reuters
Mundo em quarentena
Mundo em quarentena

Um tema que afeta diretamente a vida das pessoas, mas vem sendo tratado pela mais alta autoridade da república de forma irresponsável, o isolamento social adotado no Brasil determinado pelo Ministério da Saúde seguindo orientações da OMS, sequer é a forma mais dura para se enfrentar o Coronavírus, a quarentena.

Estudos realizados baseados nos países onde o vírus grassa indicam que ainda teremos pelo menos mais uns 40 dias de “recolhimento compulsório” antes de se iniciar, paulatina e organizadamente, a liberação das atividades econômicas no País. Que deverá, segundo estudo da Universidade Simon Fraser, do Canadá, respeitar seis meses de vigília, dado o tipo de isolamento adotado por aqui, de mais ou menos 60% da população. 

Isso, se a curva da epidemia repetir o que ocorreu na China, que levou 60 dias para começar a liberar as pessoas para o retorno à suas atividades normais, mas, com grande número de restrições para evitar o recrudescimento da epidemia, já que ainda não há vacina para o Coronavírus.

Sem distanciamento social, a projeção de mortes no Brasil, segundo o Imperial College, está estimada em 1,2 milhão de pessoas. Com o isolamento de 60% da população, serão infectados 120 milhões de pessoas, haverá necessidade de hospitalização para 3,2 milhões de pessoas, 702 mil delas em estado grave, dos quais 75% (529 mil pessoas) irão a óbito.

São números altamente preocupantes, mas que, infelizmente, podem se elevar muito mais, já que nossas favelas e aglomerados urbanos com seus mais de 70 milhões de moradores e rasas condições para um enfrentamento adequado ao ataque do vírus, podem geometrizar aqueles quantitativos e, certamente, não estão nos cálculos da instituição inglesa. 

Em nenhuma das hipóteses o SUS terá capacidade para responder sequer minimamente à brutal demanda que será gerada nos próximos 45 dias. Pesquisa recente do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde estima que cada internação pela Covid-19 custará aos cofres públicos R$ 11.300. Significa, em termos práticos, que para cada ponto percentual de infectados na população brasileira não coberta por plano de saúde, haverá um custo de R$ 1 bilhão.

Por outro lado, cabe ao governo suprir as necessidades primárias das pessoas e dar sustentação às empresas. Simples assim. O resto será discutido após a passagem do tsunami Coronavírus no País. No meio dessa confusão, pressões para o retorno rápido ao serviço certamente será a ordem do dia a partir da próxima semana, justo no momento da verticalização ascendente da curva do vírus entre nós. De nova a falsa dicotomia irá provocar instabilidade social no País. Tudo o que não se pode almejar em momento tão grave.

Não se pode liberar pessoas de forma irresponsável, senão a emenda pode sair pior que o soneto, com a massificação sem controle de infectados. O pior dos mundos. Antes disso, será necessário massiva identificação das pessoas que foram infectadas, mas estão livres do vírus. 

A nosso ver, a liberação paulatina deve se dar lá para o final de maio. Nunca antes.


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