EDITORIAL

Caos à vista

Por Redação 03/04/2020 - 10:54
Atualização: 03/04/2020 - 11:36

ACESSIBILIDADE

Agência Brasil
O ministro da Saúde, Luiz Mandetta durante coletiva
O ministro da Saúde, Luiz Mandetta durante coletiva

O ministro da Saúde, Luiz Mandetta, a despeito das dificuldades interpostas pelo capitão-presidente e dos problemas típicos do órgão que dirige e do SUS, tem desempenhado papel difícil na etapa, digamos assim, preparatória à chegada da fase mais aguda do Coronavírus no país. Epidemia que, até o momento, somente alcançou os extratos sociais mais altos da Nação.

Mas agora que se aproxima a hora da verdade do pico epidêmico entre nós, que deve acontecer entre meados de abril até, pelo menos o final de maio, é preciso que ele, como autoridade maior da área, seja mais enfático em seus pronunciamentos com relação à realidade dos fatos a acontecerem. Especialmente porque agora entram em cenas os mais pobres, até o momento, pouco alcançados pelo vírus. 

Na quarta-feira neste espaço, alertávamos – redundantemente até – da absoluta incapacidade do SUS em atender à demanda gigante que se desenha para os próximos meses. Ontem, para surpresa de ninguém, noticiou-se que o estoque de materiais de segurança e proteção aos profissionais da saúde acabou. Zeraram os estoques do SUS, antes mesmo da “guerra” iniciar. A ordem agora é fazer o que os procedimentos de segurança não permitem: reutilizar as EPIs e outros materiais descartáveis. Uma tragédia mais que anunciada. 

Centenas de médicos e profissionais da saúde morreram na Itália e na Espanha justamente pela falta de equipamentos para uso no dia a dia daqueles profissionais. Podemos estar repetindo o drama vivido pelos heróis da linha de frente do combate ao vírus daqueles países. O que merece o mais forte repúdio antecipado de todos. E exige providências imediatas das autoridades de saúde federal, estaduais e municipais para salvarem aquelas preciosas vidas. 

E o que dizer das precaríssimas instalações que irão recepcionar os doentes? Hospitais públicos sucateados, com número absolutamente insuficiente de UTIs e, pior ainda, sem respiradouros sequer para 60% dos leitos disponíveis. Estamos caminhando a passos acelerados para o caos.

Ao chegar aos mais pobres, o vírus vai encontrar amplas condições para rápido, multiplicar geometricamente o número de infectados, um exército de pessoas subnutridas, com doenças crônicas, imunidade baixa ou, simplesmente, os velhos e sua lenta capacidade de resposta a inimigo insinuante e rapidíssimo no ataque. 

Tememos pelo pior. Hordas de pessoas doentes às portas de hospitais, centros de saúde e outros equipamentos do aparato público de saúde que, impotentes e à mingua em capacidade de resposta, nada ou muito pouco poderão fazer. Está acontecendo na rica Europa e nos EUA, embora em números menores dos que prevemos acontecer no Brasil. Infelizmente.

O ministro, que ganhou a confiança da população precisa, agora, ampliar e agudizar os seus alertas. Não ficar mais na condicional. Informar com sutileza, mas de forma concreta, objetiva, o que vai acontecer de fato daqui para frente. Que não será nada bom.

Não dá mais para ficar na “torcida” de que o pior não aconteça. Os fatos desmentem a crença.


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