Agrotóxico usado no 'Agente Laranja' está sendo despejado em lavouras de Alagoas

Mais de mil intoxicações por agrotóxicos agrícolas foram registradas em Alagoas nos últimos 10 anos, revelou estudo divulgado nesta quarta-feira, 11, pelo Observatório de Estudos sobre a Luta por Terra e Território, vinculado à Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

Coordenado pelo professor, Lucas Lima, o estudo apontou que agrotóxicos como o 2,4D, usado como base na fabricação de um gás batizado de 'Agente Laranja' - utilizado por soldados americanos contra vietnamitas durante a guerra do Vietnã-, liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), está sendo usado nas lavouras.

"Esse gás causa problemas na saúde da população até hoje. Além disso, estão usando carrapaticidas para tratar carrapatos em animais como agrotóxico, principalmente em plantações de feijão", contou o pesquisador em entrevista ao EXTRA.

Ainda segundo o professor, o agrotóxico mais usado do mundo, presente em 90% das plantações de soja e nos principais cultivos agrícolas, também está presente em Alagoas e colocando em risco a vida de pequenos produtores e da própria população.

Desenvolvido e popularizado pela Monsanto, o Glifosato é, há tempos, suspeito de causar câncer, além de estar relacionado ao extermínio das abelhas. O produto se tornou alvo de diversos protestos no primeiro semestre deste ano e é liberado para uso no Brasil.

A pesquisa de campo foi realizada nos municípios do Alto Sertão de Alagoas, parte oeste do semiárido. Segundo Lucas Lima, a escolha desse recorte espacial deve-se à recente presença do Canal do Sertão.

Além da pesquisa de campo em municípios do Sertão de Alagoas, o estudo contemplou dados fornecidos pelo Sistema Nacional de Agravos de Notificação, vinculado ao Ministério da Saúde, Censo Agropecuário, realizado pelo Instituo Brasileiro e Geografia (IBGE).

Foi possível constatar que  o número de propriedades rurais que usam agrotóxicos é maior nos municípios que integram o perímetro do Semiárido, especialmente, Arapiraca, Coité do Noia, Craíbas, Girau do Ponciano, Igaci e Lagoa da Canoa.

Outro estudo publicado ontem, 10, pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos revelou que mais da metade dos vegetais está contaminada com veneno no Brasil.

Ao todo foram analisadas 4.616 amostras de 14 alimentos de origem vegetal representativos da dieta da população brasileira, como abacaxi, alface, arroz, cenoura e tomate. Em 51% delas, algum resíduo contaminante foi encontrado. E 23% dos alimentos tinham concentrações de agrotóxicos superiores ao Limite Máximo de Resíduos.