CRÍTICA

Médicos repudiam mutirão de cirurgias: 'é sem critérios e desprovido de ética'

Por José Fernando Martins 07/12/2019 - 09:13
Atualização: 07/12/2019 - 09:24

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Pacientes passam por exames pré-operatórios antes de agendar cirurgia em mutirão no Benedito Bentes, em Maceió
Pacientes passam por exames pré-operatórios antes de agendar cirurgia em mutirão no Benedito Bentes, em Maceió

O mutirão de cirurgias que está sendo realizado pelo governo do estado desde quinta-feira, 5, no bairro Benedito Bentes, em Maceió, e prorrogado até domingo, 8, tem desagradado médicos cirurgiões de Alagoas. 

Em carta de repúdio encaminhada à imprensa, o Colégio Brasileiro de Cirurgiões registrou que é contra o mutirão de cirurgia da forma como está sendo realizado.

Conforme o colegiado, a ação estadual está ofertando cirurgias "sem critérios seguros, sem transparência quanto ao uso dos recursos envolvidos, sem remunerar dignamente o ato médico e desprovido de ética no trato com a equipe de atendimento dos hospitais".

"Considerando-se que o próprio governo federal retém as filas de cirurgias, causa estranheza a iniciativa do mutirão. O ideal seria dar condição para os procedimentos serem feitos de forma eletiva, na rede pública, com segurança e garantia do acompanhamento pós-operatório pelo próprio cirurgião responsável", destacou a carta de repúdio. 

E finalizou: "o Estado precisa ser contemplado com o aumento de recursos para a média e alta complexidade, não com iniciativas imediatistas. Os pacientes merecem conhecer, escolher e confiar na capacidade técnica do profissional com quem vai ser operado".

Confira a carta de repúdio na íntegra

O Colégio Brasileiro de Cirurgiões vem a público registrar que é contra o mutirão de cirurgia, da forma como está sendo realizado, sem critérios seguros, sem transparência quanto ao uso dos recursos envolvidos, sem remunerar dignamente o ato médico, e desprovido de ética no trato com a equipe de atendimento dos hospitais. 

Considerando-se que o próprio governo federal retém as filas de cirurgias, causa estranheza a iniciativa do mutirão. O ideal seria dar condição para os procedimentos serem feitos de forma eletiva, na rede pública, com segurança e garantia do acompanhamento pós-operatório pelo próprio cirurgião responsável.

Diante do imediatismo desses mutirões, há de se questionar o seguinte: Quem são os verdadeiros beneficiados com o programa? Quem recebe pela prestação do serviço? E quanto? O povo paga a conta, mas não tem noção do que está por traz desse tipo de iniciativa. Para o Colégio Brasileiro de Cirurgiões há muitos aspectos a serem esclarecidos, daí o repúdio. 

O Estado precisa ser contemplado com o aumento de recursos para a média e alta complexidade, não com iniciativas imediatistas. Os pacientes merecem conhecer, escolher e confiar na capacidade técnica do profissional com quem vai ser operado. Este, por sua vez, receber valor justo, e ter condição de acompanhar todo o processo pós-operatório, jamais deixando essa tarefa para terceiros. 

Enfim, o ato médico há de ser sempre ancorado no respeito a vida do paciente, bem como na ética profissional, critérios até agora obscuros nesse modelo de mutirão que vem sendo imposto.

Maceió, 06 de dezembro de 2019
Tadeu Gusmão Muritiba, Mestre do Capítulo de Alagoas


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