entrevista

"Os governantes acham que todos têm seguro de saúde privada", diz Gustavo Pessoa

Por José Fernando Martins 26/09/2016 - 00:00

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O candidato à Prefeitura de Maceió, Gustavo Pessoa (PSOL) (Crédito: Assessoria)
O candidato à Prefeitura de Maceió, Gustavo Pessoa (PSOL) (Crédito: Assessoria)

O site EXTRA ALAGOAS realizou entrevistas com os candidatos à Prefeitura de Maceió. A ordem das publicações foi decidida por sorteio gravado e encaminhado às assessorias dos candidatos. A entrevista deste domingo, 25, é com o candidato Gustavo Pessoa (PSOL).

Extra Alagoas - Qual o setor mais crítico de Maceió na sua opinião? O que faria para reverter essa situação?

Gustavo Pessoa: Os serviços de saúde que estão totalmente paralisados. O PAM Salgadinho se encontra fechado, os postos de saúde se transformaram em clínicas particulares de qualidade duvidosa, controlados por vereadores. O nosso foco nos primeiros seis meses da gestão vai se concentrar numa auditoria sobre a atual situação das nossas unidades básicas de saúde, para, a partir daí, trabalhar pesado na revitalização do PSF que foi esquecido pela atual gestão. A revitalização do PSF nos permitirá colocar em prática programas focados na “Saúde Preventiva” e outros como o “Saúde pro Idoso”, que visa levar atendimento médico domiciliar para idosos, portadores de doenças crônicas e outros paciente com dificuldade de locomoção.

EA - Como avalia a atual gestão?

GP: Trata-se de uma gestão apática que procurou esconder a sua paralisia com o argumento da crise econômica. Tenho dito em minhas entrevistas que o prefeito Rui Palmeira terceirizou sua gestão para de terminados grupos que aparelharam e tornaram ineficiente o trabalho de várias secretarias e quem paga por isso é a população de Maceió pela péssima qualidade dos serviços prestados.

EA - Qual a proposta para melhorar o transporte público em Maceió?

Nossa gestão terá como foco o desestímulo ao transporte individual e o incentivo ao transporte coletivo. Foi dessa forma que as principais cidades do planeta conseguiram elevar o patamar civilizatório das suas populações. Investir pesado no transporte público implica numa reestruturação física dos nossos terminais e o aumento da frota. Faremos em caráter emergencial um estudo para a viabilização de um fundo que visa custear o passe livre para estudantes e desempregados. Tais recursos seriam buscados com a locação de espaços publicitários pertencentes á prefeitura e com alocação de verbas em outros tributos. Assumimos recentemente com ciclo-ativistas o compromisso de dobrar a nossa malha cicloviária nos quatro anos de gestão.

EA - Com a crise financeira nacional, vários estabelecimentos fecharam as portas em Maceió. O que fazer para manter as atuais e atrair novas empresas para a cidade?

GP: Entendo que não seja atribuição do poder público atuar diretamente na geração de empregos. Ao estado compete criar as condições para incentivar e estimular o livre empreendimento. Nesse sentido, devemos avaliar de forma criteriosa a política tributária de modo a exonerar a folha estimulando os micro e pequenos empreendimentos. Também será prioridade da nossa gestão a descriminalização dos trabalhadores informais. Entendo que Maceió só se tornará uma cidade atraente para investimentos quando conseguirmos qualificar melhor a nossa população e investirmos pesado no saneamento básico que serão ferramentas essenciais para o aumento da massa real dos salários.

EA - Como melhorar o segmento do turismo na capital em meio a tantas adversidades, como esgoto jogado ao mar, insegurança na orla, falta de qualificação para atender os turistas, entre outras?

GP: Tenho dito que nossa cidade só será mais acolhedora para quem nos visita quando se tornar uma cidade mais humana e atrativa ao encontro para aqueles que nela vivem e trabalha. Os problemas citados não geram apenas desvantagens competitivas da nossa cidade em relação a outras capitais. Esses problemas tornam Maceió uma cidade dolorosa para os próprios maceioenses. Em relação ao turismo, percebemos que Maceió tornou-se um dos principais destinos turísticos do país, tendo como eixo, praticamente exclusivo, a exploração das nossas belezas naturais. Penso que podemos fortalecer o nosso trading turismo se explorarmos outras potencialidades presentes na nossa cidade, como por exemplo, o nosso patrimônio histórico. Nesse sentido é fundamental tornar mais orgânica a relação entre Maceió como a Serra da Barriga e Penedo. O nosso projeto também prevê a reestruturação física e a qualificação dos trabalhadores que atuam no mercado da produção, de modo a transformar esse espaço num centro de gastronomia acessível e confortável a toda população maceioense. Mas pra isso será necessário o saneamento da área que vai do mercado à Levada. Maceió continuará sendo uma cidade interessante para os turistas. Mas será redescoberta por sua própria população.

EA -  Segundo o Instituto Trata Brasil, apenas 37% da população de Maceió têm coleta de esgoto. Por que é investido tão pouco em saneamento básico? O que fazer para melhorar esse índice?

GP: O investimento em saneamento nunca foi prioridade para os nossos investidores. Afinal, construir canos abaixo da superfície não gera visibilidades nem votos. É necessária uma mudança cultural. Ao contrário dos meus adversários não faço uma campanha baseada em obras e sim nas pessoas. Vamos levar agua boa e dar saneamento às pessoas sem nos preocupar com o custo politico dessa escolha.

EA - Quais as propostas para a saúde? O problema crônico de Maceió é a saúde pública. Por que o descaso com esse setor tão primordial?

Tenho cá minhas suspeitas sobre a razão do descaso, mas acho que a pergunta seria melhor respondida pro Cícero Almeida e Rui Palmeira que governaram a cidade nos últimos 12 anos. Eles têm contas a prestar sobre isso. Suspeito que ambos governam a cidade imaginando que todos os maceioenses possuem um seguro de saúde privada.

EA -  E quanto à educação? Como diminuir o analfabetismo e melhorar a qualidade de ensino em Maceió?

GP: Vamos investir o percentual obrigatório e aumentar os investimentos. Investir nas escolas em tempo integral e coordenar um grande mutirão social que vise à erradicação do analfabetismo em nossa cidade. Vamos mobilizar os adultos a voltar pras escolas, essas pessoas devem acreditar que a educação ainda pode reinventar suas vidas. Vamos investir numa educação voltada para a diversidade e para a formação do pensamento critico a aproximando a comunidade da gestão escolar. Sonho em nos alforriar do analfabetismo ao final dessa gestão.

EA- Maceió está entre as capitais mais violentas do país. Assaltos a ônibus, residências, no trânsito e nas ruas são constantes. Qual o papel do gestor municipal para coibir a violência?

GP: Não entendo que o maceioense tenha uma essência inclinada à violência. Na minha visão, a situação de calamidade em que nos encontramos é o resultado de um modelo político e social que fracassou, condenando grande parte da nossa população a miséria e ao descaso. Não penso que o simples aumento do aparato repressivo possa dar conta da situação dramática em que nos encontramos. Contudo, não ignoraremos o problema: ampliaremos os quadros da guarda municipal e vamos reequipar  a sua estrutura, articulando melhor  o seus funcionamento de modo a transformá-la num elo entre as demandas da comunidade e os órgãos de repressão do estado.

EA - Considerações livres. 

GP: Represento uma possibilidade nova para minha cidade e convido todos a refletirem sobre os danos para a nossa cidade de continuarmos insistindo nos mesmos personagens de grupos políticos. A real transformação de que precisamos pressupõe necessariamente a rejeição dos projetos políticos que nos condenaram à situação atual. Quero fazer uma gestão compartilhada e dialogada com a sociedade, quero dar o melhor de mim e o melhor de minha sensibilidade para elevar essa cidade ao patamar civilizatório que ela merece.


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