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Animais do Ifal de Satuba são contaminados com brucelose

Por 04/11/2015 - 10:36

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Os pastos verdes dos municípios da Região Metropolitana de Maceió, onde vacas, bois e cavalos pastam tranquilamente, ainda escondem doenças graves que podem causar sérios prejuízos para a população. Ás vezes nem mesmo cercas – ou a falta delas - conseguem evitar que animais sadios entrem em contato com outros infectados e tenham que ser abatidos para evitar o avanço de certas enfermidades. Foi assim que a Brucelose atingiu 17 dos 82 animais do Instituto Federal de Alagoas (Ifal) de Satuba.

O CadaMinuto recebeu uma denúncia dando conta que animais haviam sido abatidos e que a principal suspeita entre estudantes e professores do Instituto era de que se tratava de Brucelose. A doença pode ser transmitida ao homem, o que gerou ainda mais angústia. “Soube que os animais foram abatidos e circula o boato de que pode ser brucelose ou aftosa e estamos muito apreensivos, já que a brucelose é transmissível ao homem. Tudo porque o leite e produtos derivados produzidos no Campus são consumidos e não sabemos o que fazer com medo de que seja verdade essa infecção e que alguém possa ter se contaminado”, contou o denunciante, que pediu para não ser identificado.

Essa pessoa também disse que o Campus não possui cercas que separem parte de sua extensão das demais regiões, o que facilita o trânsito dos animais do Ifal em outras propriedades e de animais da vizinhança na unidade. “Todo o campus é aberto, então esse contágio aconteceu assim. Foi construído um muro, mas nunca foi cercada a fazenda toda porque é muito grande. Já houve até solicitações para se comprar arame para fazer uma cerca, mas até agora nada. O medo atinge a todos com essas informações de contaminação, soube até que alguns professores já pensam em fazer um documento para pedir informações sobre esse fato”, contou.

Em entrevista ao CadaMinuto nesta terça-feira (03), o diretor do Ifal, Anselmo Aroucha, confirmou que os animais tiveram que ser abatidos após um monitoramento e diagnóstico realizado, que confirmou que as 14 vacas e três bezerros tinham sido contaminados pela brucelose. Ele afirmou também que a Instituição vem tomando todas as medidas e cuidados necessários para evitar que o rebanho restante não seja atingido por nenhuma outra doença.

“O campus Satuba possui 153 hectares, tudo aberto, e diariamente estamos refazendo cercas, pois as pessoas vão lá e cortam e botam os animais, no outro dia quando detectamos colocamos para fora. Não dá para afirmar, mas é uma possibilidade de nessas idas e vindas de animais e pessoas que nós não sabemos quem é, pode ter transmitido para os nossos animais. Houve o sacrifício dos animais por uma questão de sanidade. Nós enquanto instituição além de contratar profissionais especializados para o procedimento, seguimos todas as regras sanitárias para poder fazer o sacrifício, já que é uma determinação do Ministério da Agricultura, que sempre que se detecta um animal com essa doença ele tem que ser abatido”, afirmou.

Segundo a veterinária do Instituto, Jana Kelly Santos, o caso foi monitorado no final do primeiro semestre e o abate aconteceu em agosto após uma série de testes, a separação dos animais infectados e isolamento para evitar que outros sejam infectados.

O Ifal também descartou que o leite produzido pelas vacas infectadas e os produtos derivados possam ter sido contaminados pela bactéria, já que é adotado o processo de pasteurização de todo leite produzido. “O procedimento sempre foi adotado e não posterior à infecção. A gente faz a pasteurização do leite de acordo com a legislação de produto de origem animal”, explica Jana.

Ela frisou que todo o procedimento para o sacrifício ocorreu conforme a normatização do Conselho Federal de Medicina Veterinária para abates de animais e também como medida para resguardar a sanidade animal e a saúde pública dos servidores, estudantes e da população vizinha ao Campus.

“Fizemos o recomendado pelo Ministério da Agricultura. Depois do monitoramento, foi feito o sacrifício dos animais detectados como positivos no teste recomendado e esse sacrifício também foi realizado da forma que é preconizado na legislação e justamente se preocupando também com a questão dos produtos. Eles são seguros, pois quanto à brucelose, nós fazemos a pasteurização lenta dos derivados lácteos, que não oferece riscos e mesmo assim não há animal positivo que esteja no rebanho. Os animais que no monitoramento foram diagnosticados positivos, eles foram sacrificados”, explicou.

O monitoramento é de responsabilidade do Instituto e quando há animais diagnosticados positivos com a bactéria, é preciso fazer um relatório por um profissional habilitado no Ministério da Agricultura, que fica responsável em emitir um relatório técnico para a Agência de Defesa e Inspeção Agropecuária de Alagoas (Adeal). Segundo a veterinária, a Adeal está ciente dos animais que foram detectados com a doença, além de possuir uma cópia dos laudos técnicos do rebanho dos animais que estão livres da doença.

“É importante a Agência estar ciente se tudo está conforme a Lei e do que está acontecendo no Estado, assim como o Ministério da Agricultura”, disse.

Anselmo disse também que o Ifal comunicou a um dos produtores vizinhos sobre a ocorrência da brucelose, alertando para a necessidade de se adotar medidas para combater a doença, mas o Instituto não sabe se as medidas cabíveis foram tomadas. Apesar dos cuidados tomados pelo Ifal, o fato alerta para o perigo de produtores da região estarem com animais infectados com a doença e que não sabem ou não trataram e ainda assim continuam produzindo leite e derivados ou vendendo a carne dos animais. Como a brucelose é transmissível ao homem, há preocupação com a população local, que pode estar colocando sua saúde em risco.

“O Ifal deu uma contribuição, fazendo o que deve ser feito, mas um produtor de bovinos que tenha que sacrificar seu rebanho sem receber nada em troca é complicado, o que reforça os cuidados com os produtos consumidos”, alerta.

DANOS PARA O ANIMAL E PARA O HOMEM

A brucelose, também chamada de Mal de Bang, Febre Malta ou aborto infeccioso, é uma zoonose que pode ser transmitida para o homem. Nos bovinos, a Brucella abortus chega por via oral e respiratória quando um animal infectado, na maioria das vezes as vacas, eliminam durante o parto ou aborto bactérias. Alguns dos sinais da brucelose nos animais é aborto no terço final da gestação e nos machos pode causar inflamação do testículo que pode levar à infertilidade.

Já pessoas que consumirem produtos derivados do leite ou a carne de animais infectados com a doença, os principais sintomas como fraqueza, mal-estar, dores musculares e articulares, dores de cabeça e febre.

Francisco Feliciano, veterinário contratado pelo Ifal para cuidar dos sacrifícios, falou que a situação ocorrida no Instituto também serve de alerta para que outros produtores monitorem seu rebanho e evitem a disseminação da doença.  “São poucas as propriedades que tomam as medidas que foram tomadas aqui, de fiscalizar, detectar, fazer a eutanásia, higienizou o ambiente, separou os animais para que outros não cheguem a área contaminada. Serviu de exemplo para futuras ações a serem tomadas”, disse.

FISCALIZAR PARA NÃO REMEDIAR

Outro ponto questionado pela denúncia recebida pelo CadaMinuto fala sobre a segurança do Campus. A falta de cercas e outras medidas que evitem o trânsito de animais e pessoas desconhecidas foi criticado.

Questionado sobre a segurança e quais medidas seriam tomadas para evitar que o rebanho voltasse a ser infectado, Anselmo disse que já se estuda a possibilidade de se arrendar parte das terras do campus para reduzir a vulnerabilidade, além de se colocar uma cerca elétrica e realizar de forma constante o monitoramento dos animais e evitar que haja a entrada de rebanhos desconhecidos na área. Sobre a possibilidade de se aumentar a segurança no Ifal, Aroucha disse que o orçamento atual inviabiliza que essa ação seja adotada.

“Nós temos segurança, mas hoje é impossível que o Ifal contrate pessoal. Nós temos hoje no orçamento R$ 600 mil para ser utilizado durante o ano com segurança. São dois vigilantes motorizados durante o dia e quatro durante a noite. Esses profissionais custam R$ 600 mil por ano e eles não são suficientes para a área. Para colocar em todo lugar para inibir, inviabiliza. Então a gente procura concentrar eles onde há maior valor de patrimônio, como aqui no entorno dos prédios e as pessoas. Então nós não temos condição orçamentária para ter 4 ou 5 homens circulando pelo Campus. A gente procura se aproximar da sociedade, temos vários programas para isso para levar alguma oportunidade a essas comunidades e também como forma de conscientizar que a Instituição tem uma função que além de educar pode trazer uma melhor condição de vida para as pessoas. É delicado tratar com as pessoas, já tivemos várias reuniões com o reitor, com o nosso procurador e o que a gente sempre recebe como orientação é que busquemos fazer parcerias. Acionar a polícia nem sempre funciona porque as pessoas voltam, então a nossa saída é trazer a população para perto e transformá-los em parceiros”, afirmou.

Fonte: Cada Minuto


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