Saúde

Crise deixa Maceió sem atendimento público odontológico

As 56 unidades e os dois centros especializados estão fechados há meses. Odontólogos não conseguem trabalhar por falta de material
Por Do G1, em Brasília 24/02/2014 - 06:10

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Crise deixa Maceió sem atendimento público odontológico

Conseguir uma consulta odontológica nos postos de saúde de Maceió tem sido uma missão impossível. Os consultórios instalados em 56 unidades de saúde e os dois Centros Odontológicos do município estão sem funcionar não por falta de odontologistas, mas pela falta de equipamentos e materiais básicos de trabalho. Em alguns consultórios, não há atendimento desde 2010.

A doméstica Adeílda Maria de Santana, 55, moradora do bairro do Jacintinho conhece bem essa carência. Ela quase não tem dentes na boca. A dentadura da parte superior da boca está frouxa e na parte inferior só tem os dentes da frente.

Adeílda é tímida e aos poucos ela vai se soltando e dá algumas gargalhadas, mas são sempre contidas. "Eu tenho vergonha, tento sorrir com os lábios mais fechados ou sempre coloco a mão na boca. Gostaria muito de poder arrumar meus dentes", relata.

Ela estava no posto de saúde João Paulo II, no Jacintinho, aguardando a consulta médica. A doméstica bem que poderia ter atendimento básico na unidade de saúde, mas não consegue porque o consultório odontológico está fechado desde junho de 2013, segundo os funcionários do posto.

Ela não é a única que sofre com a carência no atendimento odontológico. Na Unidade de Saúde Rolland Simon, no Vergel do Lago, encontramos Nilson Alves da Silva, 50, que também não tem alguns dentes. Ele até conseguiu atendimento dentário em setembro de 2013, mas foi só uma consulta. "Era uma obturação que tinha que ser feita e a doutora fez na hora. Agora, se doer de novo, vou ter que pagar para arrancar", diz o aposentado.

O município tem 200 odontologistas concursados e, segundo o presidente do Sindicato dos Odontologistas do Estado de Alagoas (Soeal), Airton Mota Mendonça, nenhum profissional está trabalhando. "Não há nenhuma condição de trabalho nos postos de saúde, não tem sequer uma anestesia para uma simples restauração", relata.

Ele diz que esta situação se arrasta há anos e que a categoria esperava que fosse melhorar com a nova gestão do município, mas não foi o que aconteceu. "É um descaso total, odontologia não é prioridade no município. Não tem cabimento os servidores receberem sem trabalhar. Quem perde com isso é a população", afirma o sindicalista.

Na última quarta-feira (19), a categoria realizou um protesto em frente ao antigo Alagoinha, na Ponta Verde, para reivindicar melhores condições de trabalho nos postos de saúde. Airton Mota afirma ainda que não há nenhum consultório em unidades escolares ''o que seria fundamental para atender crianças de 7 a 12 anos".

O Módulo Odontológico Municipal Rui Palmeira, localizado no Vergel do Lago, que deveria atender crianças e adolescentes até 14 anos da região está fechado desde 2010. O local foi fechado para reforma, já concluída, mas os cinco consultórios ainda não estão funcionando pelo mesmo motivo de todos os outros: falta de material.

O Conselho Regional de Odontologia (CRO), após diversas denúncias, realizou uma fiscalização recente ao Centro de Odontologia do Pam Salgadinho, que deveria ser referência em Maceió. O relatório desta visita ainda não está pronto, segundo o presidente do CRO, Hildelberto Cordeiro Lins, mas já é possível adiantar que o local não tem a mínima condição de funcionar.

"Estamos preparando o relatório para entregar ao prefeito. Mas o que temos de concreto é que o último atendimento de prótese realizado no Pam Salgadinho tem a data de junho de 2013. Isso é inaceitável em um centro que deveria ser referencial", diz o presidente. Ele diz ainda que não há insumos como anestesia para realizar cirurgias e alguns equipamentos essenciais para o trabalho dos profissionais estão quebrados.

A situação é ainda mais crítica no Centro de Especialidade de Odontologia Rafael de Matos Silva, localizado no Tabuleiro do Martins. O centro foi reinaugurado em 2007 e deveria ser especializado em prótese dentária, mas nunca fez esse tipo de atendimento, de acordo com a coordenação de Saúde Bucal, da Secretaria Municipal de Saúde.

Há profissionais especializados contratados pelo Município que não conseguem atuar na área por falta de materiais. Casos como os de Adeílda e de Nilson Alves poderiam ser tratados no CEO.

Prefeitura admite problema
A coordenadora de Saúde Bucal da SMS, Audrey Guerreiro, admite que a situação é caótica e afirma que o problema vem de anos e em um efeito ''dominó''. "O que a coordenação poderia fazer, já foi feito. Nós fizemos todo o levantamento do que falta nas unidades e dos equipamentos que devem se repostos. Dependemos agora de processo licitatório e por isso não temos competência para afirmar quando conseguiremos fazer com que os consultórios estejam em pleno funcionamento", afirma.

A coordenadora lamenta a situação precária no município. "Quando dizemos que a saúde começa pela boca, é porque uma boca saúdavel evita várias doenças como meningite ou reumatismo", afirma a coordenadora.

Com relação aos equipamentos sucateados, a coordenadora critica a falta de manutenção. "Não temos técnicos para consertar e fazer pequenos reparos nos equipamentos, então, quando algum quebra, fica enconstado e com o tempo acaba tendo que ser trocado. Isso gera custo", afirma a gestora.

A reportagem conversou com Carlos Humberto Lima, assistente técnico do secretário municipal de Saúde, Jaelson Gomes. Ele explica que a demanda da Saúde Bucal entrou no Decreto de Emergência da Saúde, em outubro de 2013.

"Mas como já estávamos no final do exercício financeiro, não tivemos tempo hábil para fazer as contratações de insumos e todos os equipamentos. Tivemos problemas com fornecedores que, por conta de dívidas da SMS, se recusaram a fornecer orçamentos, o que atrasou ainda mais o processo", diz.

O assistente técnico afirma ainda que ficou definido que agora a demanda dos consultórios odontológicos não mais será pelo Secreto de Emergência e sim pelo processo comum, que precisa de licitação. "Estamos empenhados em solucionar essa demanda ainda neste primeiro semestre", afirma quando questionado sobre prazo.


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