Operação Métis: Policial do Senado diz que chefe tentava 'blindar' parlamentares
Por Folhapress
21/10/2016 - 21:27
Paulo Igor Bosco Silva, 29, o policial legislativo que deu origem à
Operação Métis ao informar à Polícia Federal sobre as atividades
suspeitas da Polícia do Senado no sentido de proteger parlamentares,
enviou à PF uma carta de dez páginas em que denunciou o seu superior,
Pedro Ricardo Carvalho, por supostamente estar "tentando impedir, ou
pelo menos embaraçando a investigação", em referência à Operação Lava
Jato e "outras investigações criminais".
"Pedro Ricardo Araújo Carvalho, atual diretor da Polícia do Senado, determinou medidas para impedir diligências investigativas até mesmo em relação a ex-senadores da República. O que demonstra de forma inequívoca a desvinculação entre a ordem por ele emanada do intuito de proteção das atividades parlamentares", afirmou o policial legislativo.
Silva disse que pessoalmente advertiu o então chefe do Serviço Jurídico da Polícia do Senado "para a possibilidade de existirem escutas ambientais e outras diligências legalmente autorizadas" e que tais varreduras poderiam atrapalhar uma eventual investigação federal. Contudo, disse não saber o resultado de seu alerta.
Silva afirmou que, ao regressarem de uma varredura realizada em São Luís (MA) na casa de um genro do ex-senador Edison Lobão Filho, os servidores da Polícia do Senado "externaram publicamente, diante de vários colegas do setor, extrema preocupação por terem cumprido a diligência".
O policial afirmou que o serviço foi realizado "no período em que o senador Lobão Filho estava sendo alvo de investigações" da Polícia Federal.
"A Polícia do Senado não possui atribuição para realizar medidas de contra-inteligência fora das dependências da Casa Legislativa, muito menos em ambientes não relacionados às atividades parlamentares", escreveu o policial.
Em depoimento prestado à PF, Paulo Igor Silva reconheceu a autoria do ofício, disse que atravessou "um dilema moral" ao decidir fazer a denúncia e que sempre procurava "escapar dessas ordens" de varredura, pois as considerava ilegais. Ele dizia aos seus superiores que não sabia operar os aparelhos de rastreamento.