Eleições
Políticos apostam em parentes para ampliar poder em Alagoas
A Folha de S.Paulo publicou nesta terça-feira, 27, uma reportagem que mostra de parentes de políticos já eleitos por prefeituras em Alagoas.
De autoria do jornalista João Pedro Pitombo, a matéria "Em Alagoas, clãs da política tentam renovação para se manterem nas prefeituras" mostra como a influência política é decisiva na hora do voto.
Confira na íntegra
Cotado para assumir o ministério do Turismo no governo de Michel Temer, o deputado Marx Beltrão (PMDB) tem percorrido todo o estado em busca votos para candidatos aliados na disputa por prefeituras. Mas em cinco cidades, uma possível vitória terá sabor especial: Jequiá da Praia, Coruripe, Feliz Deserto, Penedo e Piaçabuçu, onde disputam a prefeitura, respectivamente, irmã, tio, tia e dois primos.
A influência no litoral sul de Alagoas é tão grande que a família cruzou o rio São Francisco e elegeu o prefeito de Ilha das Flores, em Sergipe. Como os Beltrão, outros clãs familiares disputam prefeituras e buscam afirmar sua influência na política alagoana. Para isso têm apostado na renovação, lançando candidatos jovens, mas que carregam sobrenomes de tradição.
A família do senador Renan Calheiros (PMDB), por exemplo, tenta emplacar o quinto mandato seguido de um familiar em Murici. A cidade, que já foi gerida pelo filho e pelo irmão do presidente do Senado, vê despontar agora como candidato Olavo Calheiros Neto (PMDB), 29, sobrinho dele.
Não muito longe, em Messias, Pedrinho Calheiros (PHS), 25, primo e
ex-assessor do governador Renan Filho, tenta eleger-se prefeito. Mesmo com a perpetuação de membros das famílias nas prefeituras, líderes
políticos alagoanos negam que o sobrenome seja fator determinante na
escolha dos candidatos.
"Não é uma questão de família, mas de trabalho. São as propostas e a atitude do candidato que contam para o povo, não o sobrenome", diz Marx Beltrão. Ao justificar a quantidade de candidatos Beltrão no sul de Alagoas, ele diz que "a família é grande" e que cada um tem independência.
Com as candidaturas em família, a questão partidária acaba ficando de lado. Em Jequiá da Praia, onde Jeannyne Beltrão, irmã de Marx, é candidata pelo PRB, o PMDB é da chapa adversária.
O mesmo em Piaçabuçu, onde disputa o primo Djalma Beltrão (PRB). Em Penedo, o outro primo Marcius Beltrão (PMDB) enfrenta outro tradicional clã familiar, os Toledo. A candidata da família é Ivana Toledo (PP), mulher do ex-deputado e usineiro Alexandre Toledo.
"Foi uma decisão pessoal dela. A política é uma coisa bonita e eu incentivo as pessoas a participar", afirma ele. A família disputa ainda em Cajueiro com Lucila Toledo (PSDB), mãe do deputado estadual Bruno Toledo (Pros). Em geral, as principais famílias da política alagoana começam a trajetória em uma cidade e vão avançando para os municípios vizinhos.
"É como se fosse o jogo 'War', no qual o objetivo é ir conquistando territórios", explica o cientista político Ranulfo Paranhos, da Universidade Federal de Alagoas. Este é o caso da família Pereira, que começou sua trajetória em Junqueiro, no agreste, mas já fincou bandeira nas cidades vizinhas de Campo Alegre e Teotônio Vilela.
O próximo objetivo é São Miguel dos Campos, mas o projeto foi adiado para a eleição de 2020.O principal líder político da família é Joãozinho Pereira (PSDB), 39, que este ano disputa em Teotônio Vilela.
Na cidade que leva o nome do ex-senador, pai do ex-governador Teotônio Vilela Filho, o candidato a vice de Joãozinho também tem a grife do sobrenome: é o empresário Márcio Vilela. Em alguns casos, o bastão é passado de pai para filho com objetivo de suavizar a imagem da família, cujos patriarcas são investigados por crimes que vão de desvio de recursos públicos a homicídio.
É o caso do deputado estadual Antônio Albuquerque (PTB), que quer eleger o filho Arthur Albuquerque (PMDB), 26, em Limoeiro de Anadia, e a irmã Conceição Albuquerque (PMDB) em Maravilha. Antônio é investigado por suposto desvio de recursos da Assembleia Legislativa e é alvo de inquérito por suspeita de participação em um assassinato, acusações que nega.
"Eles tentam voltar ao poder pelos filhos. É um rótulo novo com um discurso velho", diz Paranhos.